o jack antonoff disse que o “álbum é Deus”, e eu concordo
meus álbuns favoritos do ano até agora
Em toda forma de arte, a narrativa é o que mais me encanta. Não necessariamente o que fica nas entrelinhas, que eu também amo, mas o fio condutor de toda aquela explosão e sinergia. O que une tudo, que traduz a interseção entre o que o artista planejou compartilhar com o seu público e o que ele precisava colocar para fora, para evitar a autodestruição. Na música, e principalmente na música pop, o símbolo deste encontro sempre foi a criação e o lançamento de um álbum. Uma obra completa, que tem começo, meio e fim, e significa algo muito especial e verdadeiro naquele intervalo de espaço e tempo que ele tenta capturar.
A indústria da música atual é uma das mais mecânicas e robotizadas que existem, e o sinônimo de sucesso geralmente se atrela a ideia de hits pouco orgânicos, hiper divulgados, e construídos com o propósito de alcançar os maiores números e “paradas”. Esse sistema nem é de todo ruim, porque ele ao menos coloca o cenário do pop em destaque de novo, já que toda canção fica disponível para todo mundo, o tempo todo. Mas essa movimentação de completo abandono do processo artístico como algo que demanda um esforço quase que sobrenatural e uma dedicação exemplar é um dos sinais mais agridoces da industrialização da nossa sociedade.
“Album is god, period. Always has been. There’s no brilliant artist that existed for a real period of time and changed things and has a real audience that isn’t based on albuns. They don't exist. I love singles. Singles are pathways to somewhere. Singles without a great album is a long hallway that leads to nothing.” - Jack Antonoff no podcast “And The Writer is...”
Por isso, resolvi compartilhar com vocês os meus cinco álbuns favoritos dos últimos seis meses, e explicar o porque deles me darem esperanças de um futuro que respeita o lado verdadeiramente artístico da música, e perpetuam a ideia colocada pelo imaculado Jack Antonoff de que o “álbum é Deus”:
I quit - HAIM
Não existe nada mais especial nesse mundo do que sentir o amor cultivado pelas pessoas por meio da arte delas. Esse é sempre o caso com as obras de HAIM, mas I quit deixou isso palpável de uma maneira que eu não imaginava ser possível. Eu sinto os olhos marejados, sinto a dor no peito do coração partido. Sinto os dedos que traçam os acordes do baixo, a emoção por trás de cada riff de guitarra, a força de cada baqueta na bateria. O amor pela arte de se fazer música irradia de toda letra, toda melodia, toda história. As três irmãs são talentosas por si só - e suas performances ao vivo deixam isso claro - mas a magia que elas conquistam quando estão juntas tem caráter extraterrestre. Elas conquistaram meu coração em 2023, e se consagraram como a minha banda favorita em 2025. Quero ouvir o que elas têm a dizer pelo resto da minha vida.
Favoritas: Everybody’s trying to figure me out, Gone, Lucky stars, Down to be wrong e Love you right
Bloodless - Samia
Nesse momento da minha vida, a Samia é provavelmente a minha compositora favorita da geração. Bloodless tem suas melodias especiais e arranjos únicos, além de se destacar pelo lirismo ultra pessoal característico da artista norte-americana, que te convence de estar em um diálogo ao vivo com ela. Existe uma verdade pulsante nas letras de seu terceiro álbum de estúdio, capaz de te colocar em um transe profundo que te impossibilita de passar mais de cinco segundos sem prestar atenção no que a cantora tem a dizer. E ela sempre tem algo a dizer. Para aproveitar a obra em sua totalidade, recomendo que você abra mão de entender todas as referências e anedotas de cara (Stuff a salmon in the silhouette1/Look for Jesus in my rosettes2), porque a artista nos convida a transformar suas palavras e significados em algo pessoal, e inteiramente nosso. A interpretação é nossa por direito, e essa generosidade é o que eu encontro de mais lindo na arte da Samia.
Favoritas: Spine Oil (minha melodia favorita do ano), Proof, Lizard e Carousel
Addison - Addison Rae
A arte de não apenas se reinventar, mas de se entender como uma mulher adulta em forma de álbum. O álbum de estreia da ex-tiktoker, agora cantora e compositora Addison Rae é um marco de como se destacar em função de sua originalidade, e ainda assim conquistar a atenção de um público considerável. Eu amo esse álbum porque ele cumpre exatamente o que se propõe a fazer, e faz isso de uma maneira divertida e sempre criativa. Addison tem suas referências expostas na mesa e se permite ser atraída por elas, ao invés de repelida. Seu flerte com elementos do hyperpop, pela colaboração de longa data com artistas como Charli XCX e A.G. Cook, mas também por sua aproximação com o gênero, permite que a voz única da artista, junto com a produção de Elvira Anderfjärd e Luka Kloser, criem um universo mágico, onde podemos cavalgar cavalos de crina cor de rosa e admitir que o dinheiro é tudo que importa sim!
Favoritas: Money is Everything, Headphones On, Fame is a Gun e In The Rain
Coisas Naturais - Marina Sena
Muitos falam que esse não é o melhor álbum da Marina, mas foi o que me introduziu a uma das artistas mais especiais do nosso país, e por isso eu sempre terei um carinho pela obra. De toda forma, eu continuo achando o álbum um espetáculo de folia, sensualidade, emoção e brasilidade. Com uma voz única, a cantora e compositora dá seu grito de liberdade de um relacionamento passado, e nos hipnotiza enquanto conquista sua nova versão: livre, feliz e encantada com a vida. A partir dos olhos de um novo amor, Marina reivindica seu tato artístico de uma maneira natural e linda, e reconstrói o significado de amor próprio.
Favoritas: Desmistificar, Mágico, Carnaval e Sem Lei
MAYHEM - Lady Gaga
O pop nunca esteve tão de volta!!! A frenesi do Gagacabana ajudou muito, mas até se eu tivesse tido o contato com essa obra apenas pelos meus fones de ouvido, eu continuaria a amá-la por tudo que ela representa. Esse álbum dialoga com a artista que a Gaga foi quando surgiu no cenário musical, mas sem abandonar toda a confiança e amadurecimento que ela conquistou ao longo dos anos. É uma ode à nostalgia sem se configurar como “batida” ou cafona. É lindo, eletrizante, e nos fornece algumas das melodias mais deliciosas dos últimos anos. Mas, acima de tudo, ele é extremamente divertido e exala segurança e poder, de uma maneira que só quem domina muito o seu ramo consegue transmitir.
Favoritas: Garden of Eden, Vanish Into You, How Bad Do U Want Me e Abracadabra
Uma referência à descrição de Kiki de Montparnasse feita por John Glassco em seu encontro em 1927:
“Seu rosto era lindo de todos os ângulos, mas eu gostava mais dele de perfil, quando tinha a pureza linear de um salmão recheado.”
Referência a Man Ray, Le Violon d’Ingres (1924), foto das costas nuas de Alice Prin com os buracos de um violino
Voce leeeu a minha mente que precisava de musicas novas🥹🥹
amei esse ❤️